domingo, 7 de agosto de 2011

A Alteridade

“O amor, mesmo que decorrente de um desenvolvimento cultural e social, não obedece à ordem social: quando aparece, ignora barreiras, despedaça-se nelas ou simplesmente as rompe. O amor é filho de ciganos, é enfant de bohéme”.

“A boca é verdadeiramente extraordinária, algo aberto para o mitológico e o fisiológico. Esquecemos que esta boca fala, e o que há de muito belo é que as palavras de amor são seguidas de silêncios de amor.”



“Mas a beleza do amor, que reside na interpretação da verdade do outro em si, implica encontrar sua verdade através da alteridade.”

Edgar Morin, Amor Poesia e Sabedoria, 2002

Na contemporaneidade, estamos todos aflitos com a direção em que a sociedade monoteísta e capitalista irá atracar e fazer andar na prancha aquilo que não obedece à ordem social, no caso aqui o amor. Serão o amor e a paixão jogados em alto mar em latitude repleta de tubarões, ou serão deixados em uma ilha deserta à mercê de sua própria sorte, ou ainda pior, teremos uma alteração em nosso DNA e ficaremos simplesmente estéreis e não conseguiremos romper as duras barreiras entre as quais esta sociedade que desponta nos guarda?

O controle social é o maior desejo de todos aqueles que estão no poder, surgindo sempre com sutilezas, quando não através de processos autoritários. Mas, neste momento nos deparamos com a frágil vocação humana, que à mercê de uma qualidade de vida melhor e cada vez mais cara, se vê distanciada de seus valores mais históricos, caminhando cada vez mais para uma sexualidade vista como produto capitalista, em que há a interpretação do sexo e não do amor, o que considero desenvolver-se a partir de nossos próprios referenciais culturais e sociais.

As conotações ganham seus espaços quando alinhamos os nossos referenciais pessoais e nos vemos no momento mágico de nossas individualidades, embora as “teletelas*” sejam cada vez mais presentes e limitantes de nossas excursões por aquilo que é social, e a “polícia do pensamento*” nos monitorar de forma sistemática em nome do mercado de trabalho ou de consumo; de uma forma pós-revolucionária, porém, sobram aqueles que não acreditando na forma emergente da revolução são simplesmente cassados, presos ou desaparecem em nome da nova revolução.

Mas, como dissidentes têmos que procurar asilo. E é no mitológico e no fisiológico que vemos uma possibilidade de abertura, entendendo o significado da boca para o amor, assim como os olhos são ponto de magnetismo e atração entre nós; daí seja talvez que algumas culturas têm desejo de esconder tanto a boca quanto os olhos. Mas na incansável trajetória do ser, nos vemos no meio do grande embate de falas racionais desprovidas de qualquer conotação lógica, e de falas poéticas sem nenhum fundo afetivo ou metamoroso, nos deixando incapazes de levitar por sobre o silêncio do amor.

É pela diferença que conseguimos nos reconhecer e quando falamos de amor estamos diante da questão da interpretação que damos ao sentimento do outro; assim, somente será possível se ver amando quando as interpretações rumarem para um lugar quase comum, onde será possível desenvolver o sonho da família perfeita, tornando-nos cidadãos importantes, pois seremos titulados pai de família, ou seja, dono de um clã. Talvez este seja o aspecto de relevância social da família para o indivíduo. mas, no aspecto afetivo, será que somos capazes de encontrar a verdade do amor na aceitação das diferenças, ou simplesmente caminhamos para uma padronização em massa dos nossos sentimentos? E onde anda a beleza do amor, se não no respeito à alteridade?

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